Relatório Walpole 2025: A Nova Era da Hospitalidade de Luxo Britânica
- Evelyn Bandeca
- 18 de abr.
- 4 min de leitura
Num mundo marcado por incertezas, ruídos digitais e aceleração tecnológica, o luxo britânico ressurge com uma mensagem poderosa: a verdadeira sofisticação não está na ostentação, mas na capacidade de criar conexões humanas e culturais significativas.
É o que revela o mais recente relatório da Walpole – The Art of British Luxury Hospitality –, que posiciona a hospitalidade de alto padrão como catalisadora de cultura e conexão. Para os profissionais da experiência, esse material é mais do que um estudo de tendências; é um chamado para reimaginar o papel do serviço personalizado no século XXI.

Em um mundo em constante mutação – marcado por disrupções tecnológicas, instabilidade política e transformações culturais –, a hospitalidade de luxo britânica ressurge não apenas como um produto turístico de excelência, mas como uma verdadeira força cultural e emocional.
É o que revela o novo relatório lançado pela Walpole, entidade que representa as marcas de luxo britânicas, em colaboração com a consultoria Notable London e a agência de tendências Globetrender. O estudo, intitulado “The Art of British Luxury Hospitality”, foi oficialmente apresentado em março de 2025 durante a missão comercial da Walpole em Nova York.

O luxo como catalisador de cultura e conexão
Mais do que uma vitrine de acomodações refinadas, a hospitalidade britânica é apresentada como um instrumento de soft power, capaz de promover entendimento intercultural, reforçar o legado do país e atender aos anseios emocionais de uma nova geração de viajantes globais.
A palavra de ordem, segundo o relatório, é significado. A estética continua relevante, mas cede lugar à experiência transformadora: aquela que emociona, surpreende, acolhe e educa.

Um mercado em expansão - Hospitalidade de Luxo
De acordo com a Grand View Research, o mercado de viagens de luxo no Reino Unido foi avaliado em US$ 94 bilhões em 2023, e deverá alcançar US$ 163 bilhões até 2030, com um crescimento médio anual de 8,2%.
Apenas em Londres, estão previstas 20 novas aberturas de hotéis cinco estrelas até 2028, incluindo nomes como:
Six Senses (Whiteley, Bayswater)
Auberge Resorts (Cambridge House, Mayfair)
Rosewood (antiga Embaixada Americana, Mayfair)
St. Regis (antigo Westbury Hotel, Mayfair)
Waldorf Astoria (Admiralty Arch, previsto para 2026)
Essa expansão acompanha o crescimento da demanda por experiências autênticas, com forte apelo cultural e emocional.

Cinco pilares da hospitalidade britânica contemporânea
O relatório identifica dois eixos centrais – Cultura e Conexão – a partir dos quais emergem múltiplas manifestações práticas e estratégicas. A seguir, os destaques mais relevantes:
1. Cultura: O passado em diálogo com o futuro
Hotéis como patronos das artes: iniciativas como a parceria do hotel Connaught com a Turquoise Mountain para criação do King’s Lodge, ou a curadoria rotativa de arte contemporânea na nova lounge Windsor no Heathrow VIP, reforçam o papel dos hotéis como curadores culturais.
Rituais reinventados: do “martini das 18h” no Beaverbrook ao “afternoon tea temático de Bridgerton” no Lanesborough, o luxo agora se expressa por meio de rituais personalizados e criativos.
Programação única: colaborações com empresas como The Luminaire, que oferece experiências com artistas, historiadores e fotógrafos britânicos renomados, mostram como hotéis estão se tornando arquitetos de itinerários emocionais.
Legado com frescor: ícones como The Savoy e Claridge’s continuam a se renovar, lançando podcasts, premiando artistas emergentes e mantendo o equilíbrio entre herança e inovação.
2. Conexão: A resposta emocional ao mundo digital
Humanidade como diferencial: Em um mundo saturado por IA, o toque humano – como ligações personalizadas antes da chegada do hóspede – é reposicionado como o verdadeiro luxo.
Natureza e autenticidade: propriedades como Cowdray Estate, Wildland (Escócia) e Grantley Hall não apenas oferecem imersão natural, mas contribuem ativamente para conservação ambiental e regeneração de habitats.
Pertencimento comunitário: com menus de origem local (como o “25-mile menu” do The Pig) e engajamento com escolas e festivais regionais, os hotéis reafirmam seu papel como motores da economia criativa local.
Família, legado e gerações: experiências intergeracionais, clubes infantis personalizados, eventos sazonais com memória afetiva e até serviços pet-friendly reforçam vínculos duradouros.
Bem-estar com propósito: spas como o Surrenne (The Emory) e o Claridge’s Spa trazem práticas avançadas de biohacking e medicina integrativa, com foco em longevidade e performance emocional.
Novos destinos, mesmas conexões: projetos como o Britannic Explorer (Belmond), trem de luxo que percorre áreas pouco exploradas do Reino Unido, demonstram como o deslocamento pode ser uma jornada de descoberta interior.
Implicações globais e estratégicas
A presença da Walpole em Nova York — com uma delegação de 25 representantes de marcas e hotéis britânicos — reforça o protagonismo do mercado norte-americano, responsável por boa parte das reservas internacionais no Reino Unido.
A missão teve como objetivo estreitar laços comerciais, promover experiências turísticas premium e consolidar a imagem do Reino Unido como destino cultural de alto valor agregado.
O luxo que permanece é o que toca
A hospitalidade britânica não está apenas preservando o passado, mas redefinindo o futuro do luxo. Num cenário global fragmentado, seu diferencial está na forma como conecta pessoas, territórios, histórias e emoções com elegância e intenção.
Para os que atuam no segmento de experiências e lifestyle de alto padrão, o recado é claro: o futuro do luxo será emocional, artesanal, conectado – e, acima de tudo, humano.
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